quarta-feira, 11 de março de 2020

A busca de Erdoğan pelo controle do norte da Síria

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Artigo a pedido e publicado inicialmente no Internacional da Amazônia

Não haver uma potência que possa brigar por uma possível hegemonia faz, segundo a teoria da estabilidade hegemônica de Gilpin (1988), com que haja crises e instabilidades na região. Como líder natural xiita, o Irã não foge de suas obrigações de defender aliados e buscar um maior poder força, mas peca ao depender da Rússia desde os tempos de URSS para chegar a esses objetivos. Haveria de existir uma potência sunita, com um passado grandioso, aliado a um grande poder econômico-militar que pudesse ser temido e respeitado.

A Turquia vem colocando em prática um suposto projeto de ser essa hegemonia possível, é um dos principais atores na questão da guerra civil Síria, inserido no processo de Astana, nas zonas “seguras” no Norte da síria e no controle de refugiados. Erdoğan recentemente já declarou que não faz tanta questão de fazer parte da Europa (hurriyetdailynews). Esse afastamento do ocidente tem a ver com a retomada da influência turca em países do antigo império. O chamado neo-otomantismo se fortalece quando há um equilíbrio entre o islã (cultura) e o kemalismo, esse foi a ocidentalização da Turquia pós queda do império, seu objetivo foi a busca por melhores índices econômicos e científicos, o objetivo é fazer a Turquia voltar a ser o grande símbolo sunita da região, tendo em vista o forte poder econômico, político e militar.

Desde o início da guerra civil na síria um país em particular vem sendo o principal ponto de apoio (tampão) da OTAN e seus aliados na crise dos refugiados. A Turquia vem trilhando ano após ano uma política de vizinhança agressiva com o objetivo de colocar o país numa zona de segurança onde a desenfreada onda de imigração em direção à anatólia tenha fim, são quase quatro milhões de pessoas segundo a ACNUR.

O norte da Síria, fronteira com a Turquia


Erdoğan joga contra tudo e todos que estiverem entre seus interesses na região, principalmente quando se trata de acontecimentos que podem aumentar ainda mais o fluxo de refugiados. Os confrontos em Efrain e Ildilib escancaram a mudança de postura do país no jogo internacional, aquele foi marcado por confrontos contra os curdos, aliados dos americanos, já este, contra os sírios de Assad, aliados dos Russos. 

Escrever sobre uma possível atitude Russa acerca do último caso citado seria um palpite, já Assad parece finalmente perceber que a antiga potência sunita está voltando ao tabuleiro, segundo ele, a Turquia está dando suporte a grupos rebeldes (Curdos de maioria sunita). 

Seguindo a paisagem que nos está sendo apresentada por Erdoğan, é nítida a sensação que os Turcos, mesmo dizendo a poucos dias que procuram as vias diplomáticas, irão defender o norte da Síria como se fosse o próprio território com ou sem mais conflitos.

Referências:


Turkish delegation to visit Russia for Idlib talks, hurriyetdailynews

Turkey to push back Assad forces from observation posts, Anadolu

Minareci, Semih, Search for Identity: Turkey's Identity Crisis (April 30, 2008). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=1297378 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1297378

Turkey doesn’t need EU anymore, but won’t quit talks: President Erdoğan, hurriyetdailynews

GILPIN, Robert. The theory of hegemonic war. The Journal of Interdisciplinary History, v. 18, n. 4, p. 591-613, 1988.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O que está por trás de Erdoğan?

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O papel de Erdoğan é algo extremamente simples no tocante aos estudantes do oriente médio, mas um enigma para aqueles que são paladinos do conhecimento válido (Eurocêntricos), não é difícil ver pessoas “importantes” dando “pitaco” no tema e de forma insípida analisam à luz de seus grandes teóricos indiscutivelmente eurocêntricos. A Europa vem a tempos rejeitando uma possível entrada do país na União Europeia por questões culturais como citado por  Samuel Huntington"Since the European nations continue to believe that turkish people are not culturally european, they won't let Turkey enter the EU".
 Erdoğan é presidente da Turquia desde 28 de agosto de 2014

Leia: Do Império Otomano à República da Turquia

Logo após a criação da república (1923) começou uma era chamada de Kemalismo que de forma resumida seria uma mudança avassaladora que ocorreu no país rumo ao positivismo francês, jogando na lata do lixo todo o legado do antigo império e suas raízes religiosas. A nova paisagem político cultural turca animou o ocidente, em especial a Europa que começava a olhar a turquia como um potencial parceiro econômico. Os turcos logo se viraram para o ocidente e rejeitaram a sua natural liderança no “oriente médio”.

O modelo Kemalista terá grande sucesso econômico comparado com as duas potências da região:


O problema começa quando a história e os costumes são roubados de um povo, vários artigos relatam que a mando de kemalistas inúmeras fontes históricas foram alteradas, além da aproximação do idioma local com os idiomas latinos da Europa. Toda essa aproximação com os países europeus fez uma gigantesca confusão na cabeça dos turcos.

A final, quem (ou o que) são os Turcos? 
  1. País liberal e forte aliado da Europa? vendendo a alma ao diabo para entrar na UE?
  2. País historicamente líder sunita onde nossos maiores aliados são os antigos irmãos de Império Otomano(Osmanlı imparatorluğu)?
Erdoğan representa a quebra do paradigma kemalista, aos poucos a turquia vai se transformando em uma potência no oriente médio como fora na época de império, a aproximação do partido criado por Erdoğan é um referência clara que o Islã tem presença forte no governo, mas nem sempre foi assim.

O Partido da Justiça e Desenvolvimento (Adalet ve Kalkınma Partisi), o partido criado pelo presidente no início era fortemente ligado à Europa, seguia aquilo que hoje está se espalhando no Brasil; Liberal na economia e conservador nos costumes, mas a visão do partido sobre a Europa foi mudando à partir da total falta de sintonia entres os países da união europeia no caso dos refugiados sírios, a Turquia se sente abandonada por ser obrigada a abrir suas fronteiras por seguir algumas leis pré Europa e os países do bloco nada fazem de fato a não ser esconder-se.

UNHCR Turkey - Key Facts and Figures - October 2018 
Leia: PKK, Estado Unidos e o processo de Astana

Ao assinar o processo de Astana com o objetivo de tentar dar uma resposta à crise dos refugiados, em termos práticos, aliou-se a dois "inimigos dos EUA", Rússia e Irã, que nos faz lembrar do chamado "Neo-Otomantismo", onde a turquia muda seu posicionamento de coadjuvante na Europa para tornar-se um gigante no oriente médio, essa prática demonstra que Erdoğan segue em busca de liderar o oriente médio, onde a turquia começa a ter de volta um sentimento realista: a Turquia não é europeia, mas uma potência sunita com poderes de influência até mesmo sobre Israel, onde é exaustivamente estudada por grandes nomes das mais diversas universidades e professores altamente renomados.

A recente e patética guerra comercial de Trump fez que ficasse claro de modo prático que volta a ressurgir o "ser turco", não só pelas medidas corajosas do presidente no tocante ao boicote ao dólar ou o fechamento de bancos estrangeiros, mas quando o povo começa por conta própria boicotar os produtos dos EUA, povos de aliados sunitas como a República Islâmica do Paquistão começaram a comprar  Lira Turca para ajudar na taxa de câmbio.

O aumento no número de alistamento militar também é um forte reflexo de um povo que está se redescobrindo, tendo em vista que os antigos aliados estão apoiando terroristas que há 31 anos vêm criando o terror no país, os mesmos que arrastam a guerra da síria para o inacabável, além da inquestionável pesquisa de adesão turca à Europa que vem caindo de modo considerável; em 2004 cerca de 71% dos turcos queriam entrar no bloco, hoje é menos de 50%. O próprio presidente já falou que a Turquia não precisa mais entrar na União Européia, a União Europeia depende mais da Turquia que contrário, principalmente depois da crise do Brexit.

respondendo a pergunta, O que está por trás de Erdoğan?

Um líder que não tem "vergonha" da descendência histórica do país e sabe do poder e responsabilidade da Turquia no Oriente médio, diferente daqueles que por décadas lideraram o país com um viés eurocêntricos, fraudando a história e tendo vergonha do império otomano e sua liderança religiosa. Sem cair de joelho para o positivismo francês ou vender a alma para seja lá quem quer que seja por um assento na União Europeia.

Referências:

Minareci, Semih, Search for Identity: Turkey's Identity Crisis (April 30, 2008). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=1297378 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1297378

Turkey doesn’t need EU anymore, but won’t quit talks: President Erdoğan: hurriyetdailynews

domingo, 2 de setembro de 2018

Do Império Otomano à República da Turquia

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O Tratado de sèvres (1920) dividirá o Império entre os vencedores da primeira guerra mundial e alguns grupos que viviam em solo Otomano como Armênios e Curdos. No caso da Grécia estará diante de um antigo sonho de reconquistar Istambul (Constantinopla), mas a área de ligação da Anatólia com a Europa estará sob comando internacional, assim como o restante do império que continuará a existir, mas sem notável influência turca, mas sim uma total dominação inglesa e francesa.

Império pós tratado de Sèvres
Não era interessante acabar com o Império no momento, tendo em vista sua capacidade política, além da afinidade cultural com os países de maioria muçulmana. Para muitos especialistas é o começo dos principais problemas que temos no oriente médio até os dias atuais. De acordo com Asher Susser, PHD e professor da universidade de Tel Aviv, criou-se países antes de nações, gerando assim uma profunda crise de identidade e ampla dominação dos países ocidentais.

Descontentes com os novos líderes do império, principalmente depois que assinaram o tratado de Sèvres, as forças nacionalistas turcas começam a se mobilizar, em contrapartida em 1919 a Grécia, apoiada por França, Inglaterra e Armênia começam a invadir o decadente império, rumo a Istambul, começando assim a guerra da libertação turca. A Grécia dormirá em 1919 sonhando com a volta de “Constantinopla” e três anos depois despertará com uma das derrotas mais humilhantes do século XX.

A guerra terá os nacionalistas turcos, liderados por Mustafá Kemal (homem que depois será chamado de pai dos turcos (Atatürk) e considerado um gênio militar, era profundo conhecedor da área atacada pela Grécia, onde por toda a vida militar defendeu dos países ocidentais) apoiados pela Rússia em troca de territórios nos Balcãs, contra o Império Otomano, Grécia, Armênia, França e Reino Unido. A esmagadora vitória turca virá fazendo uso de táticas de guerrilha, além de com uma ótica do estudo de Raporport¹, usando também táticas de terrorismo, tendo em vista os repetitivos massacres (também chamados de genocídios) a civis gregos e armênios.

Após a vitória turca (1923), foi assinado o tratado de lausanne, recuperando grade parte da Anatólia e no mesmo ano foi criada a república da Turquia que teve como o primeiro baskan², Mustafa Kemal. Com o nascimento da República, grande parte dos hábitos e valores otomanos vão se perdendo, o respeito a população multiétnica do país foi a primeira delas, principalmente se esses povos foram um dos responsáveis pela queda do antigo império como Grécia e Armênia.

O começo do sentimento de “ser turco”(nacionalismo da população), é sanguinário, além dos 250 mil civis gregos e Armênios (500 mil civis) mortos na guerra da libertação, mais de 1.5 milhão de Gregos serão violentamente expulsos da Turquia, além do não reconhecimento dos territórios curdos. O caso mais lembrado é o genocídio Armênio, onde cerca de 1.5 milhão de pessoas foram executadas por ajudar o império Russo na guerra Russo-Otomana em 1915 .

1 - David C. Rapoport, Four waves of terrorism
2 - Baskan no idioma turco significa presidente

terça-feira, 28 de agosto de 2018

PKK, Estado Unidos e o processo de Astana

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Tendo em vista o descaso das Nações Unidas* no caso dos refugiados sírios e dos aliados da Otan, em especial a "traição" dos Estados Unidos devido ao suporte aéreo dado a supostos grupos terroristas, separatistas curdos, inimigos há décadas da Turquia. Em um clima de cada vez mais afastamento dos aliados ocidentais, além da baixa expectativa de sucesso das nações unidas, criou-se em 2016 o processo de Astana.

Em poucas palavras, o processo de Astana é organizado com a Turquia sendo responsável por supervisionar os opositores de Assad e o Irã/Rússia as forças do governo, a ideia foi criar zonas de desescalada, onde todo o armamento é retirado. Mesmo que haja paz zona por zona, ou seja, um processo extremamente lento, tem tido resultados satisfatórios.

Fique esperto, quando estamos falando de OTAN e EUA estamos basicamente falando de aliados do arco sunita, ou seja, reafirmando sua visão anti-xiita, logo anti-Assad. No processo de Astana os dois lados entram em um diálogo com duas das três potências da região. Importante notar que: O Irã é o líder natural Xiita e a Turquia concentra cerca de 20 milhões de curdos (maioria sunita), além da ligação histórica com o Império Otomano.


Imagem da Internet

Antes disso, houve em 2014 a entrada os Estados Unidas na guerra, com a uma considerável ajuda deles o Estado Islâmico perdeu grande parte de seu território, mas as suas alianças curdas darão conta de desestabilizar sua relação com a Turquia. Hoje, a Síria está basicamente dividida entre o governo da Síria e o PKK/YPG (curdos sírios e turcos), grupos de quem há mais de trinta anos a Turquia vem sofrendo ataques e mesmo assim os Estados Unidos deram suporte militar a eles com a desculpa de combater o Estado Islâmico.

The terror group, backed by U.S. air support, increased its occupation in Syria from 51,379 to 45,967 square kilometers, boosting its area of dominance from 25 percent to 27.7 percent. Anadolu

Nem mesmo irei entrar no mérito se o PKK/YPK é ou não um grupo terrorista, mas, como um membro de suma importância para a Otan, que os classifica como terroristas; a ajuda dos Americanos como demonstrado no vídeo acima gerou um sentimento de "traição" por parte da Turquia.

NATO Secretary-General Jaap de Hoop Scheffer said on Monday in Ankara that the Kurdish Workers' Party (PKK) was certainly a terrorist organization.
De Hoop Scheffer, who is currently paying a working visit to Ankara, made the remarks at a news conference after his meeting with Turkish Prime Minister Recep Tayyip Erdogan. People
A figura de dois "inimigos dos EUA" aparecem fortemente ao lado da Turquia: A Rússia e Irã, que nos faz lembrar do chamado "Neo-Otomantismo", onde a turquia muda seu posicionamento de coadjuvante na Europa para tornar-se um gigante no oriente médio, essa prática parece ter suas primeiras consequências, que do ponto de vista geo-político é uma grande perda para o Ocidente, mas um extraordinário ganho para o arco xiita e aliados, tendo em vista que uma provável saída da Turquia da Otan ganha cada vez mais força, tendo em vista que o país da anatólia continuará a combater o PKK, lembrando que recentemente ouve uma batalha que cuminol com o domínio de grande parte do território Sírio de Afrin por parte do exército Turco, sinalizando que o processo de Astana é muito mais do que apenas uma reunião e sim a mudança de posicionamento de um país nas relações internacionais, a patética guerra econômica Turco-Americana é um exemplo disso.
Em 20 de janeiro, a Turquia lançou a operação militar Ramo de Oliveira contra os curdos na região síria de Afrin, visando "limpar" a fronteira turca das Unidades de Proteção Popular curdas (YPG). Ancara afirma que as YPG estão ligadas ao PKK, considerado como organização terrorista na TurquiaSputnik

*A ONU tem diversos projetos para a paz na Síria como o tratado de genebra, mas para os países do processo de Astana não é o suficiente, porém isso poderá mudar nas próximas rodadas que possivelmente terá um representando das Nações Unidas. Anadolu

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Bar e Cozinha: Como fazer o FLIP Cocktail

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O Flip é um salvador de muitas bebidas ruins, ele é tão antigo que faz todo o sentido esse "poder" de transformar uma bebida ruim em boa, mas é importante notar que ele não é só um quebra galho, basta fazê-lo sem medo e tratá-lo como um "cocktail" de respeito como ele realmente é. Antes de irmos à receita...  é importante notar que essa pode ser sua arma secreta em um churrasco ou coisa do tipo, então.. trate essa receita como sua! aqui postarei as que eu experimentei, mas você pode usar Vodca, cerveja e etc... //Em um futuro próximo escreverei sobre as minhas experiencias com essa delícia//

A arte aqui é ser químico, não é necessário seguir essa ou qualquer receita desse blog, só lembre-se de postá-la nos comentários (para que eu também experimente 😎) 

Imagem da Internet

Base da receita ------------------------->

1/2 de Ovo batido (com gema e tudo)
Xarope 2x1 (2 KG de açucar+ 1L de água) - 20/30 ML
Alguma bebida tendo em vista o teor alcoólico (-25% = 45 ML, +25% = 30 ML), Muito cuidado ao utilizar Whisky, quanto mais vagabundo menor qualidade, menor a quantidade (usando Whisky Teacher's 15 ML me pareceu o adequado).

Obervações importantíssimas ---------------------------->

Qualquer tipo de bebida com ovo deve ser tratada de forma especial, o cheiro é algo importante! Se a bebida esfriar, o cheiro desagradável do ovo poderá estragar o coquetel. Vamos dar um jeito nisso:
  1. Usando gelo grande (Igual de Whisky)
  2. Usar casca de limão ou laranja 
  3. Pequena quantidade de canela ou nozes

Bora lá bb!!! -------------------------->

  1. Coloque tudo na coqueteleira e bata, bata, bata muito.
  2. Quando já estiver pronto, usar a casca de limão ou laranja e bata mais um pouco.*
  3. Introduza em um copo bem gelado com gelo grande de modo que a espuma fique linear
  4. Use a canela ou nozes de modo que a espuma fique colorida.*
* Opcional 

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Resenha comentada: As sete teses equivocadas da América latina - Rodolfo Stavenhagen, 1965

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(Com os) problemas do desenvolvimento e do subdesenvolvimento econômico e social encontram-se numerosas teses e afirmações equivocadas, erradas e ambíguas. Apesar disso, muitas delas são frequentemente aceitas e constituem parte do conjunto de conceitos manejados por nossos intelectuais, políticos, estudantes e não poucos pesquisadores e professores.

Primeira tese: Os países latino-americanos são sociedades duais

O autor discutirá a divisão entre duas possíveis sociedades: a retrógrada, onde é estática, familiar e “pouco capitalista” e a moderna, onde está sempre mudando rumo à maior eficiência e riqueza. É importante prestar muita atenção nesta colocação, pois era será a base para o colonialismo interno.
Esta tese afirma que nos países latino-americanos há de fato duas sociedades diferentes e até certo ponto independentes, mesmo que necessariamente conectadas: uma sociedade arcaica, tradicional, agrária, estagnada ou retrógrada e uma sociedade moderna, urbanizada, industrializada, dinâmica, progressista e em desenvolvimento.

Como podem ser tão diferentes? Ambas “sociedades” tiveram o mesmo histórico de luta pela independência, fim da escravidão, corrupção e etc… como houve essa distinção tão drástica entre as regiões? O autor dirá que a mesma sociedade retrógrada, atrasada e etc, é onde está a mão de obra barata, onde estão os alimentos, ou seja, é parte fundamental para esse “progresso continuo e mudança de pensamento”.
Essas diferenças não justificam o emprego do conceito de “sociedade dualista”, por duas razões principais: primeiro, porque os dois polos são o resultado de um único processo histórico, e segundo, porque as relações mútuas que conservam entre si as regiões e os grupos “arcaicos” ou “feudais” e os “modernos” ou “capitalistas” representam o funcionamento de uma só sociedade global da qual ambos polos são partes integrantes.
(…)
As regiões subdesenvolvidas de nossos países fazem às vezes de colônias internas e, por isso, em vez de apresentar a situação dos países de América Latina em termos de “sociedade dualista” mais apropriado seria enfocá-la em termos de colonialismo interno.

Número do boletim regional do Bacen abril/2018


Como exemplo, temos a atual crise brasileira, o PIB do Brasil chegou a -3% e as área "Metropolitanas" (Sul/Sudeste) perderam poder de investimento e industrial. Segundo o Banco central do Brasil; em abril/2018 a região norte cresceu (e muito) quando se fala em indústria e com graves déficits na extração de commodities, ou seja; ficou claro que a estrutura da economia brasileira é uma estrutura colônia x metrópole, onde essa região colonial deve somente sustentar os "desenvolvidos" e ficar estática, retrógrada "até segunda ordem".

//O colonialismo interno será ampliado nesse blog, principalmente a região norte do Brasil//


Segunda tese: O progresso na América Latina se realizaria mediante a difusão de produtos do industrialismo nas zonas atrasadas, arcaicas e tradicionais

Esta tese difusionista encontra-se em muitos níveis. Alguns referem-se a uma cultura urbana – ou ocidental – que vai se estendendo paulatinamente pelo mundo e que absorve pouco a pouco os povos atrasados e primitivos. Outros falam do efeito da modernização como de uma mancha de óleo, que de um foco central ou ponto de partida vai abarcando extensões cada vez maiores. Outros ainda afirmam que todo o estímulo para a mudança em áreas rurais provém necessariamente das zonas urbanas.

A tese é contestada por não dar o devido valor ao pequeno produtor, sem ele a região “retrógrada” estará fadada a estagnação e principalmente ao êxodo rural (lembre-se dos diversos problemas que traz o êxodo rural, começando pela falta de mão de obra para a região mais atrasada, além dos diversos problemas de habitação e etc…

Na realidade, a tese correta seria: o progresso das áreas modernas urbanas e industriais de América Latina se faz às custas das áreas atrasadas, arcaicas e tradicionais. Em outras palavras, a canalização de capital, matérias-primas, produtos alimentícios e mão de obra proveniente das zonas “atrasadas” permite o rápido desenvolvimento dos “polos de crescimento” e condena as zonas provedoras à maior estagnação e ao subdesenvolvimento

Como foi avisado, é o resumo do resumo de tudo que venha do autor, Voltamos ao colonialismo interno, é  onde o autor se destaca.


Terceira tese: A existência de zonas rurais atrasadas, tradicionais e arcaicas é um obstáculo para a formação do mercado interno e para o desenvolvimento do capitalismo nacional e progressista

Não existe em nenhuma parte na América Latina um capitalismo nacional e progressista
(...)
Afirma-se, portanto, que o capitalismo nacional e progressista – localizado nos centros urbanos modernos e industriais – está interessado na reforma, no desenvolvimento das comunidades indígenas, na elevação dos salários mínimos no campo e em outros programas da mesma índole.

É uma das teses mais sem pé nem cabeça, não há exemplos reais de que qualquer país da América latina tenha seguido o que a tese diz, quando tentou foi pressionado economicamente por países de fora.

Isto significa que áreas como Lima, São Paulo, Santiago, a Cidade do México podem crescer economicamente por tempo indefinido sem que isso implique necessariamente em mudanças profundas de estrutura das áreas rurais atrasadas das “colônias internas”. Pelo contrário, o crescimento das áreas modernas é possível justamente por causa da atual estrutura social e econômica das áreas atrasadas

Por motivo de colonialismo interno essa tese beira o ridículo, a metrópole não quer deixar de ser metrópole. A quem interessa uma reforma agrária? O operário continuará a ser operário, a produção continuará igual! O mais lógico é manter a estrutura como está para crescer as custas das regiões atrasadas.

Quarta tese: A burguesia nacional tem interesse em romper o poder e o domínio da oligarquia latifundiária

Outra tese sem pé nem cabeça, já que a burguesia nacional e a oligarquia latifundiária tem um objeto em comum: manter a estrutura colonial e desenvolver-se as custa dessa mesma estrutura.
Muitos capitais provenientes dos arcaicos latifúndios do nordeste do Brasil, por exemplo, são aplicados pelos seus donos em negócios lucrativos de São Paulo. No Peru, as grandes famílias de Lima, associadas economicamente aos capitais estrangeiros, são proprietárias dos principais latifúndios “feudais” da cordilheira andina
(...)
A desaparição da aristocracia latifundiária na América Latina tem sido obra exclusiva dos movimentos populares, nunca da burguesia. Esta encontra na oligarquia latifundiária um bom aliado para manter o colonialismo interno, o qual, em última instância, beneficia por igual a essas duas classes sociais.


Exemplo simples: você já se perguntou o por quê de tantos políticos terem tantas fazendas? Quem nunca escutou histórias de “coronéis” com metade das terras de seu estado e etc…. (Geralmente) Esses mesmo políticos a usam para fins ilícitos, sendo mais específico: Lavagem de Dinheiro.  Mudança para quê? 


Quinta tese: O desenvolvimento na América Latina é criação e obra de uma classe média nacionalista, progressista, empreendedora e dinâmica, e o objetivo da política social e econômica de nossos governos deve ser o de estimular a “mobilidade social” e o desenvolvimento dessa classe.


Começando pelo começo, o que é a “classe média”? Inúmeras visões foram abordadas no texto, chegou-se a lugar algum! Como podemos chamá-la de “ nacionalista, progressista, empreendedora e dinâmica” se ao menos a conhecemos? A tese por si só é equivocada pela gritante “Paralaxe Cognitiva”.

O autor rejeita como classe média (lembre-se que ele NÃO FALA o que é):
  • Tipos de ocupação (trabalho)
  • Classe dominante
  • A população recrutada
  • Principalmente nos estratos baixos e que cedo ou tarde ocupará totalmente o universo social, quando os extremos altos e baixos já não existirão
  • Defensores do estamento burocrático
  • Hábitos e consumos
Comentário importante do autor:
Finalmente, a tese da classe média tende a obscurecer o fato de que na América Latina abundam as tensões, as oposições e os conflitos entre as classes e as etnias; de que o desenvolvimento social e econômico de nossos países depende. 

Sexta tese: A integração nacional na América Latina é produto de mestiçagem

Aqui veremos o velhíssimo sonho de integração da “América latina”(lembre-se que o Brasil não faz não fazia parte) de bolívar, aplicado ao interno, onde os regionalismos fossem atenuados e todos virassem “hermanos”, ou seja: O orgulho de ser brasileiro seria mais forte que o de ser riograndense ou sulista, por exemplo.
Nos países da América Indígena considera-se que a “ladinización” ou a “cholificación” constitui um processo globalizador, no qual desaparecerão as principais diferenças entre a minoria dominante “branca” ou “ocidental” e as massas camponeas indígenas.

O autor explica que por trás dessa tese há um teor racista, uma nova tentativa de “branqueamento” de povos indígenas, além de explicar que a verdadeira forma de integração nacional é por meio do fim do colonialismo interno, já que em grande parte dos casos os “burgueses” são justamente iguais aos “oprimidos”(cultural e biologicamente)

Sexta tese: A integração nacional na América Latina é produto de mestiçagem

Aqui veremos o velhíssimo sonho de integração da “América latina”(lembre-se que o Brasil não faz não fazia parte) de bolívar, aplicado ao interno, onde os regionalismos fossem atenuados e todos virassem “hermanos”, ou seja: O orgulho de ser Brasileiro seria mais forte que o de ser riograndense ou sulista, por exemplo.

Nos países da América Indígena considera-se que a “ladinización” ou a “cholificación” constitui um processo globalizador, no qual desaparecerão as principais diferenças entre a minoria dominante “branca” ou “ocidental” e as massas camponeas indígenas.

O autor explica que por trás dessa tese há um teor racista, uma nova tentativa de “branqueamento” de povos indígenas, além de explicar que a verdadeira forma de integração nacional é por meio do fim do colonialismo interno, já que em grande parte dos casos os “burgueses” são justamente iguais aos “oprimidos”(cultural e biologicamente)

Sétima tese: O progresso na América Latina só se realizará mediante uma aliança entre os operários e os camponeses, aliança que impõe a identidade de interesses dessas duas classes

Afirma-se, com base em teorias desenvolvidas por Lênin e Mao, que o êxito da revolução socialista na América Latina depende de a classe operária e a classe camponesa fazerem uma frente comum à burguesia reacionária e ao imperialismo

O autor rebate essa tese com base no colonialismo interno, segundo ele, por serem forças de trabalho diferente, estarem em lugares diferentes e terem interesses diferentes. A ideia de unir-se para conquistar algo em conjunto é praticamente utópica.

Colocando em exemplos: um maior investimento no campo possivelmente tirará capital das partes urbanas e logo os a qualidade de vida do operário diminuirá, a sonhada reforma agrária encareceria o custo dos alimentos e etc... Ou seja, quanto maior o colonialismo interno (lembre-se na tese número 6) menor é a integração entre o camponês e o operário, logo para que essa tese não seja equivocada tem de haver primeiro solucionado o problema do colonialismo interno e a falta de integração nacional.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Resenha comentada: Novo Estado desenvolvimentista - Bresser Pereira, 2012

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Depois do declínio do projeto de substituição da importação, principalmente após a década perdida (1980’s), a América latina seguiu políticas liberais lideradas por países de primeiro mundo, enquanto isso, países asiáticos como a Coreia do sul seguiram com políticas de desenvolvimento e distribuição de renda. Os resultados entre as duas regiões foram bem diferentes, tendo em vista o desenvolvimento humano e a estabilidade econômica.

Diante do fracasso das políticas neoliberais, políticos nacionalistas e de esquerda foram eleitos e os novos governos vêm tentando construir Estados desenvolvimentistas.

Com base nos países asiáticos, o novo desenvolvimentismo será caracterizado por grande intervenção do Estado princialmente na taxa de câmbio, responsabilidade fiscal e aumento na carga tributária visando gastos sociais

O Estado novo-desenvolvimentista continua a basear-se, conceitualmente, nas ideias estruturalistas e keynesianas, mas agora enriquecidas por um conjunto de novos modelos econômicos que foram desenvolvidos, levando em consideração políticas desenvolvimentistas bem-sucedidas em países asiáticos

É importante notar que diferente do modelo de substituição da importação e da ortodoxia liberal, no novo desenvolvimentismo; fica claro que a América latina tem problemas ímpares e por isso o modelo vai ser com base nos países asiáticos, mas com inúmeras modificação tendo em vista as diferenças até mesmo culturais.

A luta anti imperialista tem grande papel no novo desenvolvimentismo

O autor dedica um razoável tempo de leitura defendendo o modelo de substituição de importação(e atacando o liberal), segundo ele; a ortodoxia liberal fez pensar que a crise nos anos 60 fora culpa do protecionismo.

o modelo de substituição de importações já se havia esgotado na década de 1960 e países como Brasil e México já estavam buscando um modelo de exportação desde o final dessa década. A principal razão da crise econômica na década de 1980 foi a escolha do financiamento externo.

Esse financiamento externo faria com que os países da América latina ficassem não só dependentes do capital externo, mas também entrava em um grande castelo de areia, onde qualquer mudança da economia mundial causaria um grande impacto na economia interna e como isso geraria uma crise fiscal.

ao se endividar em moeda estrangeira, o país fica propenso a crises de balanço de pagamentos. Assim, o que aconteceu em 1979-80 foi: contratos de dívida com taxas de juros flutuantes, mais a decisão do Banco da Reserva Federal dos EUA de aumentar drasticamente a taxa de juros internacional levaram os países altamente endividados da América Latina a uma crise financeira de grandes proporções que, em pouco tempo, se transformou em uma crise fiscal do Estado, já que este, como sempre acontece nas crises financeiras, acabou assumindo as dívidas privadas.

Perceba que o principal referencial quando de fala em política monetária no novo desenvolvimentismo é a taxa de câmbio, justamente para deixar o externo sobre controle, já que no interno as coisas podem ser resolvidas com Open market, por exemplo. Sempre que estivermos falando de Estado na Economia é sempre bom lembrar da frase: “Em uma crise, nada mais keynesiano que um liberal

Com a instabilidade financeira (lembre-se que o autor descarta o protecionismo como principal causa) há a mudança para a volta da democracia na região, os novos governos (liberais) seguem o consenso de Washington o que o autor chamou de “Populismo econômico”.

os anos 1980 foram tanto os anos da grande crise financeira da dívida externa quanto da redemocratização na América Latina. Foram anos de populismo econômico nas administrações Carlos Alfonsin e José Sarney (1983-89e 1985-89, na Argentina e no Brasil, respectivamente), assim como já havia sido no México, no governo Lópes Portillo (1976-1982). Os anos 1990 foram os anos neoliberais da América Latina.
(...)
A linha de ação oferecia vantagens em curto prazo, mas em médio e longo prazo, seus riscos apareceram: baixo crescimento econômico, aumento do desemprego e vulnerabilidade às perturbações no mercado financeiro internacional. Levou, também, o país à desindustrialização precoce.

Esta parte é mais uma panfletagem política que necessariamente um estudo imparcial e por isso não tem muita lá tanta importância, o autor deixa a entender que não houve se quer uma coisa “reaproveitável” nos modelos liberais da época, até mesmo o Chile (maior potência Econômica da região) é colocado de lado, o autor dar a entender que os “Chicago boys” de nada ajudaram, só atrapalharam. // Sobre isso conversaremos melhor na crítica ao texto //

No caso do Chile, as consequências desastrosas das políticas e reformas neoliberais manifestaram-se cedo, na grande crise financeira de 1981-827. Como, no entanto, ainda durante o regime militar, um ministro das finanças mais sensato tenha logrado corrigir as políticas monetaristas equivocadas adotadas pelos Chicago boys e levado o país a crescer

Ao final do texto o autor compara as três políticas econômicas na base da nova tese desenvolvimentista.//////////////////////////////

Em 2003, Bresser-Pereira lançou o conceito de novo desenvolvimentismo, contrapondo-o tanto ao consenso de Washington quanto ao antigo desenvolvimentismo. Logo, um grande grupo de economistas pós keynesianos e estruturalistas juntaram-se a ele e, em 2010, oitenta entre os mais importantes economistas do desenvolvimento no mundo discutiram e aprovaram um documento a respeito das “Dez Teses sobre o Novo Desenvolvimentismo”
  • Escopo
    • Liberal: Qualquer tipo país
    • Novo desenvolvimentismo: Países de renda média
    • Antigo desenvolvimentismo: Países em busca da industrialização
  • Estado na produção
    • Liberal: nada
    • Novo desenvolvimentismo: (semi) Monopólios e áreas estratégicas
    • Antigo desenvolvimentismo: Países em busca da industrialização
  • Função estratégica do Estado
    • Liberal: garantir os direitos de propriedade e os contratos e a de defesa da concorrência.
    • Novo e antigo desenvolvimentismo: Papel estratégico ao Estado na definição, em conjunto com a sociedade, de uma estratégia desenvolvimentista nacional
  • Planejamento
    • Liberal: rejeita-o
    • Novo desenvolvimentismo: (semi)Monopólios e áreas estratégicas
    • Antigo desenvolvimentismo: divide a economia em setor competitivo e em setor monopolista
  • Responsabilidade fiscal
    • Todos concordam, mas em meio de crise:
      • Liberal: Corte de gastos
      • Keynesiana: Aumento da despesa pública
  • Taxa de juros e taxa de câmbio
    • Liberal: nada, eles são determinadas pelo mercado
    • Novo desenvolvimentismo: (semi) Monopólios e áreas estratégicas
    • Antigo desenvolvimentismo: Combater a inflação e a “repressão financeira”
  • Desenvolvimento social
    • Liberal: O mercado cuidará do assunto
    • Novo desenvolvimentismo: distribuição de renda e bem-estar social
    • Antigo desenvolvimentismo: distribuição de renda, mas sem bem-estar social
  • Fundamentação teórica
    • Liberal: O mercado cuidará do assunto
    • Novo desenvolvimentismo: distribuição de renda e bem-estar social
    • Antigo desenvolvimentismo: distribuição de renda, mas sem bem-estar social