Artigo a pedido e publicado inicialmente no Internacional da Amazônia
Não haver uma potência que possa brigar por uma possível hegemonia faz, segundo a teoria da estabilidade hegemônica de Gilpin (1988), com que haja crises e instabilidades na região. Como líder natural xiita, o Irã não foge de suas obrigações de defender aliados e buscar um maior poder força, mas peca ao depender da Rússia desde os tempos de URSS para chegar a esses objetivos. Haveria de existir uma potência sunita, com um passado grandioso, aliado a um grande poder econômico-militar que pudesse ser temido e respeitado.
A Turquia vem colocando em prática um suposto projeto de ser essa hegemonia possível, é um dos principais atores na questão da guerra civil Síria, inserido no processo de Astana, nas zonas “seguras” no Norte da síria e no controle de refugiados. Erdoğan recentemente já declarou que não faz tanta questão de fazer parte da Europa (hurriyetdailynews). Esse afastamento do ocidente tem a ver com a retomada da influência turca em países do antigo império. O chamado neo-otomantismo se fortalece quando há um equilíbrio entre o islã (cultura) e o kemalismo, esse foi a ocidentalização da Turquia pós queda do império, seu objetivo foi a busca por melhores índices econômicos e científicos, o objetivo é fazer a Turquia voltar a ser o grande símbolo sunita da região, tendo em vista o forte poder econômico, político e militar.
Desde o início da guerra civil na síria um país em particular vem sendo o principal ponto de apoio (tampão) da OTAN e seus aliados na crise dos refugiados. A Turquia vem trilhando ano após ano uma política de vizinhança agressiva com o objetivo de colocar o país numa zona de segurança onde a desenfreada onda de imigração em direção à anatólia tenha fim, são quase quatro milhões de pessoas segundo a ACNUR.
O norte da Síria, fronteira com a Turquia |
Erdoğan joga contra tudo e todos que estiverem entre seus interesses na região, principalmente quando se trata de acontecimentos que podem aumentar ainda mais o fluxo de refugiados. Os confrontos em Efrain e Ildilib escancaram a mudança de postura do país no jogo internacional, aquele foi marcado por confrontos contra os curdos, aliados dos americanos, já este, contra os sírios de Assad, aliados dos Russos.
Escrever sobre uma possível atitude Russa acerca do último caso citado seria um palpite, já Assad parece finalmente perceber que a antiga potência sunita está voltando ao tabuleiro, segundo ele, a Turquia está dando suporte a grupos rebeldes (Curdos de maioria sunita).
Seguindo a paisagem que nos está sendo apresentada por Erdoğan, é nítida a sensação que os Turcos, mesmo dizendo a poucos dias que procuram as vias diplomáticas, irão defender o norte da Síria como se fosse o próprio território com ou sem mais conflitos.
Referências:
Turkish delegation to visit Russia for Idlib talks, hurriyetdailynews
Turkey to push back Assad forces from observation posts, Anadolu
Minareci, Semih, Search for Identity: Turkey's Identity Crisis (April 30, 2008). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=1297378 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.1297378
Turkey doesn’t need EU anymore, but won’t quit talks: President Erdoğan, hurriyetdailynews
GILPIN, Robert. The theory of hegemonic war. The Journal of Interdisciplinary History, v. 18, n. 4, p. 591-613, 1988.